quarta-feira, 25 de junho de 2014

"O FAMOSO CARRO PRETO": O EXTERMÍNIO DE CRIANÇAS DE RUA, NAS CIDADES TURÍSTICAS

(Por: Karina Kramer - Ver Quem Somos)

"O famoso carro preto" é assim que são conhecidos os veículos utilizados por grupos de extermínio, encarregados de promover "a limpeza" das grandes cidades. É a chamada "limpeza para inglês ver", para que os turistas não se deparem com a miséria humana ao longo das ruas dedicadas ao comércio e ao lazer.

Assista o recente documentário produzido pelo jornalista dinamarquês Mikkel Keldorf Jensen, que veio para o Brasil especialmente para fazer a cobertura da Copa do Mundo. Ele se preparou bem para vir aqui: estudou português, pesquisou sobre o país e veio para cá em setembro de 2013, no entanto, após seis meses de reportagem, decidiu nas vésperas do Mundial, ir embora, chocado pelas denúncias de extermínio de crianças de rua. No seu documentário, intitulado "O preço da Copa do Mundo", há relatos estarrecedores sobre o extermínio de crianças numa das cidades mais violentas do país, Fortaleza. Famosa por sua beleza e seu turismo, Fortaleza também ganha o título da sétima cidade mais violenta do Brasil. E, é nessa cidade o principal cenário dos depoimentos colhidos pelo jornalista Mikkel Jensen. 
Ao anunciar sua "desistência" em cobrir a Copa do Mundo no Brasil, por conta dos problemas que encontrou no país às vésperas do evento, Mikkel Jensen gerou polêmica nas redes sociais, recebeu uma enxurrada de opiniões sobre o tema, tanto a favor quanto contra. Muitos questionaram a profundidade e a veracidade de suas declarações, acusaram-no de sensacionalista, do tipo que quer se aparecer. Mas, Jensen cumpriu a promessa que fez, ao deixar o país. Disse na época que estava finalizando um documentário, fruto dos seis meses de pesquisa aqui no Brasil, e de fato o fez. Recentemente, no dia 27/05, acabou de lançar o fruto do seu trabalho.
A seguir trechos copilados do documentário de Jensen. Leia a transcrição do depoimento do Coordenador Nacional do Projeto "Criança não é da Rua", Manoel Torquato, de Fortaleza,
quando questionado sobre o extermínio de crianças, respondeu:

"Houve um caso recente aqui, foi o extermínio de dois irmãos que estavam dormindo na porta de uma famosa farmácia, localizada numa importante avenida de Fortaleza, a avenida João Pessoa. Ao todo estavam dormindo seis meninos e meninas de rua, quando um carro preto parou, o chamado "famoso carro preto", é o nome que damos para esses veículos utilizados por esses grupos de extermínio. Pois bem, esse carro parou, abriu o vidro e atirou em todos os meninos. Quatro foram atingidos, sendo dois vitimados pelas balas, morreram imediatamente, os outros estão ainda no hospital."

Quando o jornalista Jensen questionou às autoridades de Fortaleza sobre os números oficiais de crianças mortas na rua, foi informado pela Secretaria de Segurança Pública do Cerará, que oficialmente "não havia nenhum registro de mortes violentas de crianças em situação de rua, em Fortaleza". Mas, não foi o que Jensen apurou, segundo informações do próprio Manoel Torquato, Coordenador do projeto "Criança não é da Rua", ao fazer um breve levantamento em seis instituições parceiras, que realizam projetos sociais, foi constatado que só no ano de 2013, houve um súbito desaparecimento de 121 crianças que eram atendidas por esses projetos.

O documentário não aborta apenas o extermínio de crianças de rua, o objetivo do jornalista é mostrar o “quanto os brasileiros estão pagando pela organização do Mundial. Não apenas o valor em reais, mas o preço de verdade, os efeitos que essa Copa tem na vida das pessoas, tanto pobres quanto ricas”. Sua decisão de ir embora e abandonar a cobertura da Copa, foi uma forma de protesto, e ele justifica: “fui embora porque eu sou um gringo e o governo estava organizando o evento para mostrar as belezas do País para pessoas como eu (os estrangeiros). A limpeza das cidades, então, é indiretamente, por minha causa”. Ele denuncia também, em seu documentário, sobre a corrupção, a remoção de pessoas, o fechamento de projetos sociais em comunidades.

Quando foi questionado se ele tem medo de voltar para o Brasil, ele diz que sim. Mikkel que voltou à Dinamarca depois de desistir do sonho inicial de cobrir a Copa, no país mais famoso pelo futebol, disse que em parte sua decisão de ir embora foi por medo. "Muitos jornalistas brasileiros disseram que se eu falasse disso, seria perigoso permanecer no Brasil, por isso decidi ir embora e lançar o documentário na Dinamarca, numa televisão local”.

Mikkel é um jornalista independente, que faz matérias e as vende para a imprensa local. Explica que é ele próprio quem bancou sua viagem e que sua intenção não é ficar rico ou famoso expondo sua visão do Brasil. "Eu pago tudo, ninguém paga as minhas viagens. Não estou nessa para ser rico. Eu gastei muito nessas viagens”. "Eu não quero ser um jornalista de hard news, e sim um documentarista”. E conclui: "não é que não gosto do Brasil. Amo o Brasil e as pessoas, é um lugar incrível. Só não gostaria de ver a Copa sendo realizada aí”.

Por ser um “gringo”, como ele mesmo diz, acho que Jensen fez muito mais pelo Brasil do que muitos de nós. Para aqueles que questionaram a intenção e a veracidade das informações divulgadas pelo jornalista dinamarquês Mikkel Keldorf Jensen, aqui está o documentário, em vídeo, que ele divulgou recentemente, no dia 27/05, "O preço da Copa do Mundo":

https://www.youtube.com/watch?v=8Er_mwgfW_Q&feature=youtu.be





Fontes de pesquisa:

https://www.facebook.com/mtkjensen1?fref=ts

http://copadomundo.uol.com.br/noticias/redacao/2014/04/16/jornalista-dinamarques-
deixou-brasil-por-medo-e-promete-lancar-documentario.htm

http://tribunadoceara.uol.com.br/noticias/fortaleza/jornalista-dinamarques-se-decepciona-
com-fortaleza-e-desiste-de-cobrir-copa/

http://esportes.terra.com.br/futebol/copa-2014/ce-reporter-fujao-admite-que-nao-checou-
informacao,516f3c02c6b65410VgnVCM3000009af154d0RCRD.html

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