(Por: Tieza Lemos Marques - Ver Quem Somos)
Quando
éramos adolescentes e aparecia alguém diferente e interessante no pedaço,
olhávamos para o sapato do mocinho; dependendo do tipo e da qualidade do
sapato, estava ali “um bom partido” ou não. Essa do sapato era “tiro e queda”.
Mas tínhamos bons amigos de sapato de todo jeito; até os “sem sapato”.
Coisas das garotas de um tempo que já vai largo e nos deixa muitas, mas muitas
saudades!
Lembrei-me
disso no dia da abertura da Copa do Mundo. As imagens da galera sorrindo nas
arquibancadas me trouxeram essa história do sapato. Ali o que se via era um
mundão de gente bonita, bem vestida de verde amarelo, com acessórios de boa
qualidade e ... dentes bonitos, dentes lindos, branquinhos, bem cuidados. O HD
mostra tudo e com essa altíssima tecnologia é possível perceber os mínimos
detalhes. Se a abertura foi bem chochinha, o “show” ficou por conta das imagens
das TVs que transmitiram a festa. Coisa linda!
O
brasileiro povão, aquele que de janeiro a janeiro enfrenta sol, chuva,
arquibancada de cimento, que fica grudado no alambrado, não tem aqueles dentes
não; tem não! Aliás, quando tem alguns, faltam outros. Esses não estavam lá;
não vi nenhum! Não tinham dinheiro prá comprar ingresso.
Mas,
apesar das grandes distâncias, duas coisas essa gente que estava na abertura e
o brasileiro povão têm em comum: a alegria, porque afinal somos quase todos
apaixonados por futebol; e a linguagem dos estádios, que quando a carruagem não
anda bem, coitada da mãe do juiz!
Não
xingaram a mãe do juiz, é verdade, mas aquela senhora que apita mal com o
dinheiro suado do brasileiro que padece na fila dos hospitais, que não tem a
merecida educação, que vive na tensão da insegurança (ou de um lado ou de
outro); que morre nas estradas esburacadas; que empresta sua vulnerabilidade
para viver numa casinha com uma bolsinha, e ainda é obrigado a aplaudir sem
reclamar e a sorrir para as câmeras das propagandas milionárias das estatais;
que integra uma turma campeã em corrupção; que despreza a lei e passa por cima
dela, em nome de seus caprichos e interesses por vezes, escusos ou
inusitados. Não xingaram a mãe do juiz, mas aquela que fez a Copa mais cara da
história das Copas, que construiu belas e caríssimas arenas, até agora
frequentadas apenas por quem tem um bom dinheiro, porque o preço dos ingressos
não é para qualquer um, não, meu irmão!
E, voltando à mãe dos juízes,
mesmo quando seus filhos apitam direitinho, elas estão na boca do povo; imagine
quando apitam mal e dão as costas para o povo. “Tá” reclamando de quê?
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