Foram muitas
as visitas daquela senhora à Delegacia de Defesa da Mulher. Aquela mãe estava desesperada, já não sabia
mais como se relacionar com a filha de 16 anos.
A jovem, uma
moça muito bonita, fugia constantemente
do lar, passava dias e noites fora de casa e depois retornava como se nada
tivesse acontecido.
Boletins de
Ocorrências eram registrados... A mãe, a
família, os vizinhos e a Polícia procuravam, mas ninguém conseguia encontrá-la.
Depois de
algumas vezes, descobrimos que a jovem pegava carona na rodovia, ora com
veículos pequenos, ora com grandes
caminhões... parava onde queria, em
cidades próximas ou mais distantes e ali permanecia em algum prostíbulo.
A mãe, uma
jovem senhora; pelos vestidos que lhe cobriam as pernas até os tornozelos
demonstrava ser evangélica e tentava ensinar à filha sua doutrina religiosa. Todavia,
apesar de todos os esforços, não conseguia mais segurar a filha em casa, vendo
a menina se desviar do caminho e viver a
prostituição como algo natural.
Eu mesma,
enquanto Delegada de Polícia e após várias diligencias investigativas, conversei muitas vezes com aquela jovem, lhe
perguntava os motivos de tais atitudes,
encaminhei para os serviços psicossociais e até para a Promotoria Pública.
Certa vez
questionei se não temia ser violentada durante essas aventuras e a essa
pergunta ela me respondeu com a maior naturalidade do mundo: “Não
tenho medo, quando me sento no banco do carro ou caminhão, logo vou dizendo que
tenho AIDS, assim os homens não me tocam”.
Dois ou três
anos se passaram e essa mãe, sem saber mais o que fazer, certo dia resolveu
deixar seu lar, abandonar o marido e acompanhar a filha com o intuito de protegê-la.
Alguns meses
depois, voltaram à Delegacia. A
jovem, já uma mulher, vestia uma roupa muito justa ao corpo, salto alto,
maquiagem.
Assustei-me com a aparência da mãe. Vestido curto, salto
alto, batom vermelho nos lábios,
maquiagem que achei um pouco pesada para o período diurno.
Ela então me
confidenciou: “não
consegui levar minha filha à Igreja e para ficar perto dela, fui aos lugares
onde ela freqüentava. Em certo momento o
dinheiro acabou e, para sobreviver, comecei a fazer o que ela fazia!”
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