sexta-feira, 2 de maio de 2014

MULHER E HABITAÇÃO – UMA RELAÇÃO PERMANENTE

Dos milênios que procederam o homem moderno, a primeira grande revolução que herdamos foi o da fixação no território ocasionada pelo desenvolvimento da agricultura. Além do fato de não se ter necessidade de se deslocar todo o tempo para a manutenção alimentar dos grupos humanos, a permanência resultou em duas questões – iniciais – e básicas: a construção de edificações permanentes e a divisão de tarefas, gerando as primeiras sociedades urbanas.
Dessa maneira, para conversarmos sobre as relações entre o gênero feminino e seu abrigo coletivo – a casa – deve-se ter sempre em mente as relações mais amplas que se estabelecem entre os grupos humanos.

À medida que as civilizações se desenvolveram, a partir dos contatos e das limitações das trocas, os sistemas de relações entre homens e mulheres, determinação de papéis e definições das atividades entre homens e mulheres foram se definindo.
Ainda hoje, quando encontramos companheiros que, ou não permitem ou simplesmente dificultam a movimentação das suas parceiras no mercado de trabalho, na verdade estes homens só repetem o papel que foi atribuído às mulheres nas primeiras sociedade agrícolas beneficiando o predomínio dos homens no controle dos agrupamentos humanos.
O deslocamento das atividades de sobrevivência da caça e da coleta para a agricultura pôs fim gradualmente a um sistema de considerável igualdade entre homens e mulheres. Na caça e na coleta, ambos os sexos trabalhando separados, contribuíam com bens econômicos importantes. As taxas de natalidade eram relativamente baixas por meio da amamentação prolongada.
Como consequência o trabalho das mulheres de juntar grãos e nozes se tornava mais fácil. No entanto com o advento da agricultura , aprofundou as diferenças beneficiando o trabalho masculino. Com a melhora das condições de vida acontece o aumento de número de filhos e o trabalho braçal fica definido como o do sexo feminino, enquanto que o preparo da alimentação e o cuidado com as crianças passa a ser feminino. Este sistema de relacionamentos é o que denominamos de “patriarcalismo”.
Nas sociedades patriarcais tais como a Mesopotâmia no período de cerca de 3000 AC (anos antes de Cristo), os homens eram considerados criaturas superiores. Tinham direitos legais que as mulheres não possuíam e estavam dedicadas exclusivamente às tarefas domésticas. Segundo o Código de Hamurabi – primeira lei escrita que se tem notícia – uma mulher que não tivesse sido uma dona-de-casa cuidadosa, tivesse vadiado e negligenciado sua casa e depreciado seu marido deveria se “jogada na água” .
Como pode ser visto, por mais que tenhamos modificado a forma de vivermos e de nos mantermos – não caçamos, compramos a caça no açougue, desenvolvemos máquinas que trabalham para nós, entre outras modificações – ainda se mantém esta posição em grande parte da população.
Ainda que a maneira de partes substanciais da população do planeta ainda pense desta maneira, na verdade mudamos muito. A força bruta jánão é a única maneira de se sobreviver. Na verdade desde o século XIII e XIV o crescimento das cidades passa a receber o desenvolvimento do comércio que marca a passagem da sociedade da antiguidade para a sociedade moderna. Nesta nova configuração, a presença das mulheres já não aparecia tão diferente e subordinada, mas sempre restrita nas coisas em que poderia avançar para o desenvolvimento da sociedade como um todo.
Neste sentido, as constantes guerras e revoluções também passaram a contribuir para uma nova distribuição de responsabilidades: as mulheres e, em alguns casos, até mesmo crianças, passam a trabalhar em galpões para um só patrão – iniciava-se a revolução industrial. O crescimento populacional em todas as partes do globo foi sem procedentes na história da humanidade e com enormes implicações nas vidas de homens e mulheres.
Também sob o ponto de vista cultural, a revolução industrial trouxe novos padrões e formas de relacionamento entre homens e mulheres: o número imenso de movimentação de populações entre as diversas partes do mundo, por meio da imigração, das guerras e dos novos patamares tecnológicos alcançados.
Todas as questões levantadas convergiram para um processo de reafirmação das cidades nos processos de transformação tecnológica, social e econômica que compuseram o modo de vida contemporâneo e são fundamentais para a identificação do significado da questão da habitação na vida das mulheres hoje.


Mulheres e Habitação
Helena Werneck (Ver Quem Somos)

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