quinta-feira, 10 de abril de 2014

PAPO TERAPÊUTICO - VALORIZANDO A RELAÇÃO DE AJUDA NA MANUTENÇÃO DA SAÚDE

     Escrevo para falar sobre terapia. Ouço com frequência falácias, pensamentos distorcidos sobre esse assunto. Adoraria que muitas mulheres tivessem a oportunidade de refletir sobre as palavras que aqui tenho a chance de expor.
     Porém, antes de continuar, gostaria de destacar duas citações de autores que admiro: 1. “Mas chegará o instante em que me darás a mão, não mais por solidão, mas como eu agora: por amor” (C. Lispector). 2. "Em última análise, precisamos amar para não adoecer" (Freud).
    Portanto, quando falamos de terapia, estamos também falando sobre o sentimento de amor. Sim, isso mesmo. Terapeuta significa "aquele que cuida". É preciso expandir o universo da palavra "terapia". Logo a sua pode ser qualquer relação de ajuda na qual se mantém o coração aberto, permitindo-lhe ser autêntico com suas dores e alegrias. Não necessariamente uma consulta a um médico ou a um psicoterapeuta.  
    Qualquer psicoterapeuta sabe que o que mantém o paciente em análise é principalmente o vínculo, a relação afetiva criada, e não o quão boa é sua técnica, ou quantos livros ele leu sobre o assunto. Isso é secundário. O educador e psicanalista Rubem Alves diria que as pessoas amam aqueles que sabem ouvir, "quem ouve bonito".
     Só que esbarramos em dois pontos, que interligados formam uma poderosa armadilha contra a terapia, e ao meu ver, a nossa saúde. A primeira é acharmos que "terapia" é algo pra gente louca, jargão comum. A segunda, é achar que precisamos ser fortes a todo custo e em todas as situações. Dar conta de tudo. Isso é ser forte?
   Ah é? Desde quando? Que fantasia foi essa que inventamos? Estamos continuamente aprendendo, vivendo mudanças, passando por novos momentos. A necessidade de nos fortalecermos frente as situações é constante e ter a quem dar a mão para isso faz parte do processo natural. Lidar com tudo sozinho é como colocar um "magricelo" frente a um lutador experiente e pedir que ele ganhe. Das duas uma: Ou ele sai correndo da situação ou fica ali e morre. Enquanto que o que deveríamos fazer é pedir tempo para nos fortalecermos, estarmos preparados. Provavelmente esse "magricelo" fosse precisar de um treinador. Concordam até aqui?
      Não entendo porque para todas as coisas aceitamos treinamento e para as dificuldades da alma não. É como se tivéssemos que nascer prontos, fortes e inabaláveis. Grande engano. E por isso escrevo, para valorizarmos a relação de ajuda, a qual considero indissociável da ideia de saúde mental e física, já que uma influencia continuamente na outra. Seja com um psicólogo, um psiquiatra, um amigo, um irmão, uma mãe. Precisamos perder a vergonha de dar as mãos para alguém quando necessário. Assim, procurar nossas terapias. Do contrário, ou você morre psiquicamente e adoece, ou sai correndo.

Dra. Flávia Martins Beduchi (Ver Quem Somos)

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